06/07/2004 - Honda CRF250X 2004: Testamos na trilha a moto dos sonhos de todo trilheiro. Veja fotos e como anda esta super moto.
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A Honda CRF250X 2004 foi cedida getilmente pelo piloto de enduro Aloísio "Telão" Sfalsin(foto ao lado),
da Telão Motos de Aracruz, para um teste nas trilhas
de Guarapari.
Para testar a moto convidamos o piloto Tetra campeão do Enduro da Polenta, Antonio Carlos Lima Filho, o
Tatau da Moto Litoral, que também é proprietário da Technique, tendo larga experiência com motos
de enduro e que ja havia testado a CRF230 produzida em Manaus que foi publicado aqui no RH41 em 11/04/2003.
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Eu também andei na moto e apesar de ter andado pouco(infelizmente), fiquei maravilhado com a CRFX.
Não vou entrar em detalhes pois o Tatau explica muito bem o que é a moto no texto abaixo, só posso dizer
que esta moto é a melhor que ja andei até hoje, nunca vi uma suspensão dianteira tão boa e o motor
não perdeu quase nada para a versão motocross. Veja abaixo as fotos e a opinião do Tatau...
Lauro Hoffmann
HONDA CRF250X 2004 Texto: Antonio C. Lima Filho Fotos: Lauro Hoffmann/Antonio C. Lima Filho
PAPEL DE PAREDE
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Há cerca de um ano atrás, garimpando a internet, encontrei as primeiras fotos da Honda CRF 250X, a versão de enduro da já amplamente aguardada CRF 250 de motocross. Naquela época a Honda previa o lançamento da CRF para setembro e da CRF X para dezembro de 2003.
E eu transformei a foto da CRF X em papel de parede pra ficar olhando aquela miragem todo dia em meu computador.
Todo mundo estava ansioso para ver como seria o desempenho da nova Honda 4 tempos para motocross, lançada com três anos de atraso em relação à YZF 250 da Yamaha.
A cada novo modelo que aparece todos
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esperam que a Honda use seu poder de líder de mercado para lançar produtos superiores aos concorrentes, e na maioria das vezes as vendas provam que a Honda consegue esse feito e isso cria uma grande expectativa.
No caso das motocross de 4 tempos, o desafio era ainda maior pois a Yamaha saiu na frente e surpreendeu todas as marcas provando que uma 4 tempos poderia ser competitiva no motocross. Todos esperavam da Honda uma resposta à altura, e como essa resposta demorou quatro anos na 450 e três anos na 250 ficou claro que a Yamaha com suas YZF's tinha pego a Honda e os demais fabricantes de "calças na mão".
Na CRF 450, lançada em 2002, a Honda mostrou sua força com uma moto de muitas qualidades e mais fácil de pilotar do que a YZF 450.
A CRF 250 também chegou mostrando serviço em fins de 2003 encantando a maioria dos que nela andavam. O que mais se ouvia era: "abaixei meu tempo em tantos segundos", "termino a bateria muito menos cansado", "suspensão perfeita", e assim por diante.
Mas a galera do Enduro tinha que esperar mais um pouco pois a CRF X teve seu início de produção atrasado.
E era pra ficar ansioso mesmo, pensa bem: peso pena de 2 tempos com a facilidade de pilotagem do motor 4 tempos, suspensões e freios top, e ainda o botãozinho mágico da partida elétrica.
Cara, era pela primeira vez uma moto de enduro da Honda seria produzida a partir de uma moto de cross. E isso quer dizer muito, pois a moto teria a qualidade e a tecnologia de ponta de uma Cross com a adequação para o Enduro desenvolvida pela própria Honda, ou seja, mais baixa no motor, suspensões calibradas para o off road, relações de câmbio para enduro, tanque maior, refrigeração adequada, faixa de torque apropriada, aro 18 atrás, etc.
A Yamaha já tinha feito isso com as WR's 4 tempos, mas as vendas e a prática mostraram que não houve o sucesso esperado. Talvez a Yamaha tenha investido pouco no acerto para enduro deixando a moto muito "brava" e difícil de pilotar, ou seja mais para cross do que para enduro.
A Honda tem por característica fabricar motos mais amigáveis e eu esperava que a CRF 250X poderia ser a moto "definitiva" para a prática do enduro, mas naquela época era só um papel de parede na tela de meu notebook.
Até que o tempo passou a moto chegou às lojas dos gringos e inevitavelmente alguém começou a importar para o Brasil. Um belo dia, um desses primeiros felizardos, meu amigo Aloísio "Telão" Sfalsin, me liga oferecendo frango assado para cachorro vira lata. Tinha chegado minha hora de experimentar a CRF X na trilha.
clique nas fotos para ampliar
O visual é o...
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...mesmo das...
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...motocross.
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Tatau e Telão.
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NA PRÁTICA A TEORIA FICA SEM GRAÇA
NOS MÍNIMOS DETALHES
Meu contato com a moto começa num pente fino na Moto Litoral.
Começo a atentar para os detalhes e principalmente para as diferenças em relação à versão de cross.
A constatação é de que a Honda mudou muito a CRF X em relação à CRF. Embora não pareça tanto em fotos é na atenção aos detalhes e às informações técnicas que se percebe a preocupação de Honda em fazer uma moto que realmente atendesse plenamente às características da prática do enduro.
Acesso externo ao filtro de ar, sistema de escape modificado, partida elétrica, reservatório de expansão, aro 18 na traseira, tanque maior, nova densidade do banco. Isto é o que se vê.
Mas não menos importante é o que não se vê e que eu iria sentir mais tarde na trilha: Câmbio reescalonado para enduro, diagrama de comando um pouco mais manso do que a versão cross, e suspensão com valvulação para enduro.
Renthal original
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Ponteira silenciosa
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Filtro fácil
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Olha a cara da concorrência...
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O LOCAL DO CRIME
Escolhi o local onde fica o circuito de treino do Sandro Hoffmann, e onde eu já dei umas voltas em outras motos.
Para chegar lá tem que se andar por cerca de 8 km de estrada de chão, passando pelo patrimônio de Buenos Aires. É uma estrada rápida e com muito saibro e cascalho ideal para testar o limite de aderência e o equilíbrio da motocicleta.
Pra quem conhece as trilhas de Guarapari, o circuito é o seguinte: sobe-se a "muralha da china" e segue a trilha em uma mata fechada subindo e descendo até chegar numa estradinha detonada cheia de pedregulhos que mais parece um pé de moleque gigante.
Pra piorar caiu um pé d'agua meia hora antes de a gente chegar no local, ou seja, tudo perfeito.
Mas antes uma esticadinha na reta de asfalto para sentir a potencia do motor.
Tatau chegando...
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...na "Muralha da China".
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Mesmo com chuva e muita lama...
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...muita facilidade para a CRFX.
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MOTOR 3 TEMPOS?
Apesar de que a moto estava com a carburação do jeito que veio dos EUA, ou seja, estava com a mistura pobre pra nossa alcolina, deu pra sentir legal o jeitão do motor: baixa razoável, muita média e uma alta muito forte que parece não acabar nunca.
O motor tem uma faixa de uso muito larga, aquilo que os gringos chamam de "powerband".
Dá pra brincar de 3 a 13 mil rpm.
Se você está saindo de uma 4 tempos tradicional, mansa, tipo Tornado ou XR 400 ou mesmo uma XR 200, saiba que a tocada da CRF X é outra. Sabe aquela manha de subir uma trilha bem devagar, ouvindo o motor contar os canecos "tu, tu, tu, tu..." e mesmo assim tendo torque pra empurrar? Esquece. Sabe aquele freio motor potente, que faz sua pastilha traseira durar o ano inteiro? Esquece. Os tempos mudaram, ou melhor, os 4 tempos mudaram. Lógico que são motores mais fáceis de lidar na trilha do que uma dois tempos de briga. Lógico que ela também aceita subir uma trilha a 2 mil rpm, mas não é o forte dela e o motor reclama.
Agora depois que você aprende a manter a rotação certa, tchau! E não é difícil. É só uma questão de mudar o hábito.
Pra quem vem de motos dois tempos a adaptação deve ser imediata, pois a tocada é toda mais fácil.
O câmbio é perfeito na maciez e precisão dos engates. São só cinco marchas e no estradão parece que falta a sexta. Mas é puro grilo já que a 13 mil rpm a quinta deve dar mais de 120km/h.
A embreagem eu gostaria que tivesse uma resposta um pouco mais brusca, mas do jeito que está facilita a pilotagem de novatos.
O escapamento é o seguinte: a Honda fez a mágica de projetar uma ponteira silenciosa que quase não tira a potencia do motor. Eu achei um barato andar numa moto potente sem ficar ouvindo aquela zoeira de 100 decibéis. Mas quem quiser um pouco mais de força ou muito mais barulho ou quiser gastar U$ 400 então coloca uma outra ponteira. Eu admito: bonita e leve a original não é.
A moto é alta,
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mas depois que sobe fica fácil.
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Tatau "enxuga a baba" e...
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PARA!
Os freios são sem detalhe: potentes e fáceis de dosar. Tem gente que fala que aquele burrinho do freio traseiro tem tendência a ferver, não pude confirmar.
...continua "babando".
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Quem não quer este visual.
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Lauro Hoffmann e Tatau
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ASFALTARAM A TRILHA
As suspensões tem aparência de motocross mas o comportamento é 100% enduro.
A suspensão traseira é muito boa, faz o serviço direitinho, nota 8 e meio, mas a dianteira.....
O trabalho da suspensão dianteira só pode ser definido com uma palavra: P E R F E I T O!! Pelo amor de Deus: ninguém encosta a mão nessa suspensão. Só pra trocar o óleo, falou?
O Japonês que acertou essa suspensão é o "cara". Ponto final.
Roger Hoffmann "babando" a moto na Moto Litoral.
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Sandro e Roger Hoffmann, Telão e Tatau.
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Sandro Hoffmann deu só uma voltinha na CRFX.
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Sandro e Roger
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TRILHO NA TRILHA
A CRF 250X é uma moto muito estável mesmo. Mantém a trajetória firme em qualquer condição. A geometria perfeita do chassis, o baixo peso e o ótimo conjunto de suspensões torna a moto super rápida e segura nos trechos de média e alta velocidade, independente se o terreno está cheio de pedras e valetas. Resultado: você sente confiança, acelera mais tempo, freia mais tarde e não se cansa! Ou seja, a motinha faz a maior parte do trabalho pra você.
Nas curvas a distribuição de peso é perfeita. Tudo é muito previsível. Você leva a moto no limite, sente ela desgarrar por igual e tem sempre domínio total da situação. O cara só cai se vacilar muito ou der azar.
É interessante como conseguiram faze-la estável sem que a moto ficasse com o jogo pesado nos cotovelos.
Em trilhas super travadas não espere nada de excepcional a não ser o baixo peso e a partida elétrica. Aliás eu tenho uma teoria que nesse tipo de trilha a melhor moto do mundo é uma mountain bike carregada no ombro. A CRF X é muito alta e tem um motor que gosta de giro e numa trilha carniça vai tomar pau de DT 200 e XR 200 sim senhor. Aliás, não só a CRF como a maioria das importadas que eu conheço.
Indo embora...
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SNIFF
Terminado o teste ficou a constatação de como as motos estão melhorando com o passar do tempo e o avanço da tecnologia.
No momento não tenho dúvida de afirmar que a Honda CRF 250X é, no conjunto, a melhor moto de enduro que já pilotei e que pretendo assim que for possível tira-la do meu papel de parede e coloca-la na minha garagem.
Antonio Carlos Lima Filho
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